(Artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal Diário de Araguari, 20.07.2010)
“Seu douto os nordestino têm muita gratidão/
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão/
Mas doutô uma esmola a um homem que é são/
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.”
(VOZES DA SECA – Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953)
Sábias, proféticas e (infelizmente) atualíssimas as palavras do “velho Lua”, ícone do cancioneiro popular brasileiro.
Porém, apesar do alerta, os “doutô” que dominam, desde sempre, a política e a administração pública brasileira insistiram na estratégia de manter a blindagem sobre a coisa pública, para vender facilidades em troca de votos.
Assim era no árido interior nordestino; assim era no berço esplêndido desta pátria amada, por todos os grotões. E assim é, lamentavelmente, nos dias de hoje.
Um país que deveria incentivar o trabalho disseminou o vício de conceder favores com o direito alheio. Notadamente no sistema de saúde pública, onde a lei garante acesso universal, integral e equânime a todos os brasileiros, é vergonhoso assistir à romaria de pessoas mendigando favores a “autoridades” e “amigos do rei”. Que não se furtam, nem se fartam de criticar o SUS e dizer que “a saúde do país está na UTI”. Faça-me o favor.
Mas a culpa desse quadro não é somente do cidadão, via de regra mal informado sobre seus direitos elementares. Um sistema que se ocupa em omitir informação sobre atos de domínio público mais comezinhos, não tem mesmo o menor interesse em divulgar para o contribuinte o rol de seus direitos.
Eis que o círculo vicioso se perpetua. E já recomeçam carreatas, passeatas e negociatas da próxima campanha eleitoral, transformando o que deveria ser solene em uma tal “festa da democracia” de gosto duvidoso, onde o cidadão comum somente é chamado para pagar a conta.
Passa da hora de o país pensar, de fato, em novo modelo de gestão pública. Não em palanques, em panfletos ou discursos inflamados (e pouco convincentes). Mas em ações, que busquem levar a cada indivíduo toda a gama de informações sobre seus direitos sociais e, além disso, prestar contas de cada ato levado a cabo pelos administradores públicos, em seu nome e, mais sério ainda, com o seu (do contribuinte) dinheiro.
Que não morramos de vergonha; nem nos viciemos, vendendo a alma e a consciência.
Boa semana a todos!
edilvomota@hotmail.com
http://saudenatela.blogspot.com