(Artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal "Diário de Araguari", em 06.07.2010)
Passada a euforia da Copa do Mundo, com os costumeiros excessos e os repetidos acessos de patriotismo temporão, o que afinal restará? Vuvuzelas (ufa!) devidamente encaixotadas, bandeira nacional retornando ao ostracismo e redução dos enforcamentos de horário de trabalho. Impressiona a disposição do brasileiro para o ócio, inversamente proporcional ao apego ao trabalho.
Mas, eis que se apresenta uma portentosa competição, de periodicidade menor que a copa e com, digamos, doses mínimas de fairplay. Campanha eleitoral é um verdadeiro festival de caneladas, carrinhos desleais, bolas nas costas e trairagem. Os entendidos de futebol entendem a dimensão desta linguagem.
E onde andará, a essa altura, o fervor cívico da população?
Pelos exemplos dos últimos tempos quando, salvo honrosas exceções, proliferam mandatos eivados de inexperiência administrativa, de pouco apego ao trabalho, de históricos viciados pelo mau uso do dinheiro público e uma fenomenal disposição para o populismo piegas, o prognóstico é desanimador.
O mesmo povo que se deleita em satanizar Dungas, Felipes Melos e que tais, se esquece do monte de pernas de pau que, eleição após eleição, coloca no poder, passando um cheque em branco para a incompetência e a má fé. Fé que, aliás, é muito bem explorada por picaretas infiltrados em religiões, transformando crença em curral eleitoral e fiéis em massa de manobra.
Passa da hora do brasileiro acordar e compreender, de vez, que a vida não se resume em copas do mundo.
Ao levar uma colega de trabalho ao Pronto Socorro Municipal, na tarde desta segunda-feira (05), pude constatar, não sem uma ponta de tristeza, que as dificuldades continuam. Contei, sem muito esforço, quase 90 pessoas esperando atendimento. Algumas desde as 11 horas da manhã, quando o relógio marcava 16 horas. Culpa dos servidores? Não. Culpa da infraestrutura que (justiça se faça) há anos vem sendo deteriorada pelo repetido descaso com que a Saúde Pública sempre foi tratada. E pela falta de foco na atenção primária.
A Saúde, a exemplo das demais políticas sociais, precisa muito mais que discursos, modelos ou planos de governos sem visão de longo prazo.
Da visita ao Pronto Socorro restou, ao menos, o prazer de rever antigos colegas de trabalho.
Boa semana a todos.
edilvomota@hotmail.com
http:\\saudenatela.blogspot.com
4 comentários:
A comparação é perfeita, Edilvo. Futebol e política têm muito em comum. Em ambos prevalece a Lei de Gérson: o importante é levar vantagem, certo?
O futebol nos conduz a uma cegueira seletiva. Ligados na telinha, nos esquecemos dos nossos deveres, das nossas mazelas sociais e por aí vai...
A política, em princípio, nos causa aversão, mas, mesmo assim, nos valemos dela para satisfazer nossos necessidades meramente individuais.
Dessa forma, continuaremos fazendo vistas grossas tanto para as caneladas do Felipe Melo quanto para os dólares na cueca dos políticos. O jogo feio e sujo nos seduz ou, na melhor das hipóteses, não nos incomoda como deveria.
O problema não são as filas, afinal fazem parte da nossa vida. A solução seria montar espetáculos até mesmo televisivos enquanto a fila não anda...
É sempre um prazer ler seus textos. Aprender um pouco mais sobre assuntos com os quais não lido diariamente só reforça minha compreensão de que os problemas são sistêmicos e não pontuais. Saúde, educação, meio ambiente e outras questões sociais refletem o descaso com que esses temas - que estão intrinsecamente relacionados - são tratados pelo poder público desde que me entendo por gente. E o discurso nas eleições é sempre o mesmo... Ainda bem que tá acabando a Copa e as atenções vão estar voltadas pras eleições. Ou não, pois agora tem essa história do Bruno, que tá alimentando muito bem a mídia.
Políticos "pernas de pau" contratam servidores "pernetas" para atender uma população "tetrablégica"... só poderia ter esse resultado...
Conheço um órgão da saúde que trabalha com um sistema "on line" interligado direto com um setor do Ministério da Saúde... Esse órgão contratou um "apadrinhado" que não sabia nem ligar um computador para trabalhar nesse sistema...
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