(Artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal "Diário de Araguari")
Assunto da moda em todo programa de televisão, em toda mesa de buteco e toda roda de fofoca, a guerra urbana instalada na cidade do Rio de Janeiro, desde a semana anterior, merece uma profunda reflexão sobre suas causas.
O descaso da administração pública com a concepção e manutenção de políticas públicas eficientes e eficazes, aliada à falta de foco no cidadão - mantenedor do sistema através de impostos e maior vítima da incúria, da incompetência e da má-fé - são algumas das causas do caos social que assola o país.
O cidadão brasileiro se tornou refém de sistemas públicos ineficientes, sucateados e abandonados à própria sorte. No vértice desse triângulo de horrores, que de bermuda, de saia ou pelado provoca arrepios em qualquer um, está grande parcela dos detentores de mandatos políticos. Salvo honrosas e poucas exceções, a maioria dos que se lançam ao exercício de funções políticas, seja no legislativo ou executivo, tem olhos apenas para o próprio umbigo e o próprio patrimônio. Pouquíssimos passariam pelo crivo de um “vestibular” onde tivessem que discorrer sobre o papel do Estado, sobre elaboração de políticas públicas, sobre responsabilidade fiscal e princípios da administração pública. Uma fatia menor ainda se atreveria a prestar contas, publicamente, de todos os seus atos.
Daí que, a criação de poderes paralelos, estruturados em facções criminosas, não só foi tolerada como incentivada por indivíduos que sempre viram no cargo público um fim e não um meio de servir à sociedade. São os malandros oficiais (parodiando Chico Buarque de Hollanda).
Voltando ao caso da cidade do Rio de Janeiro, não basta as forças policiais e militares retomarem o espaço físico. Caberá ao poder público, ainda que tardiamente, planejar, executar e fiscalizar ações de atenção às necessidades básicas do cidadão. E noutra seara, cuidar para que, definitivamente, todos acreditem que, de fato, vale a pena cumprir a lei tendo a certeza de que o Estado também cumprirá suas atribuições legais. Caso contrário, o espetáculo dantesco de tiroteios em via pública se tornará uma (lamentável) rotina.
E que o restante do país cuide de repensar nosso presente e construir um futuro mais digno para cada um de nós.
Boa semana...
edilvomota@hotmail.com
HTTP://saudenatela.blogspot.com
Um comentário:
Você está certo, Edilvo. Se o Estado não se fizer presente, não der o exemplo e não promover um choque de legalidade, de nada adiantará a cinematográfica ocupação de morros. Se o Estado permanecer omisso e corrupto, essas operações, no máximo, servirão de mote para o Tropa de Elite 3.
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