Conhecimento para enfrentar iniquidades em saúde
(Relatos do 8º Congresso Brasileiro de Epidemiologia)
Durante o 8º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, promovido pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), o presidente da Abrasco, Luiz Augusto Facchini, destacou o papel das evidências na indicação de ações e políticas do SUS que contribuam para a redução das iniquidades em saúde. "A saúde precisa ocupar lugar central na agenda política do país", afirmou, destacando que o encontro entre comunidade científica e população deve ser prioridade do governo e demais entidades. "Encaramos a saúde como desenvolvimento", indicou.
Ele alertou que, apesar do país ser considerado a sétima economia mundial (poucos dias depois, pesquisa britânica situava o Brasil na sexta posição), ocupa o 60º lugar nos índices de saúde e de educação. "Queremos um SUS inteiro, completo, que contemple avanços na área de saúde materno-infantil e que enfrente os desafios propostos pelo câncer, pela violência urbana e pelos acidentes de trânsito".
O ministro Alexandre Padilha reforçou a importância da pesquisas para a construção e efetiva implantação do SUS e defendeu que o tema Saúde "não é só marginal ou lateral, mas cada vez mais econômico". Para o Brasil vir a se tornar a quinta economia mundial, tem que ser capaz de se tornar num país sem pobreza e sem desigualdades, asseverou. Por isso mesmo, o combate às iniquidades deve ser preocupação central no processo de desenvolvimento. Segundo ele, as mudanças no perfil epidemiológico da população ajudam a entender as transformações que ocorrem no país..
Padilha reforçou as capacidades do SUS, lembrando que o sistema é responsável pela internação de 1 milhão de pessoas por mês, pelo maior programa de atenção primária do mundo — que assiste cerca de 100 milhões de pessoas — e por um programa de imunização que produz 96% de suas vacinas. Ele lembrou que tudo isso é fruto da capacidade técnica e acadêmica de profissionais, mas também por sua vinculação com um projeto político, intelectual e teórico de Reforma Sanitária..
Desafios e avanços.
Ele reconheceu, no entanto, que o direito à saúde no país ainda é desigual: "Não alcançamos redução significativa em relação ao câncer, principalmente pela incapacidade do SUS de diagnosticar precocemente, tratar adequadamente e acompanhar o processo de reabilitação do doente", disse, considerando positiva a forma com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem lidado com a sua doença. Padilha defendeu que a experiência vem ampliando o debate na sociedade e contribuindo para a redução do estigma e do preconceito que ainda envolvem a doença..
O ministro ainda listou como desafios o rápido envelhecimento da população, a epidemia de crack, o elevado número de morte de jovens, principalmente negros, e o alto índice de acidentes de trânsito. "Todas essas questões exigem um rearranjo do sistema de saúde e das políticas. Muitas dessas políticas universais não tratam de maneira diferente a quem precisa, não impõem a equidade no centro do planejamento e reforçam ainda mais as desigualdades", disse. .
Ele também citou avanços do setor, como a defesa da medida provisória que restringe o consumo de cigarros em ambientes fechados , a implementação das academias da Saúde, a diminuição do número de casos de malária — a menor taxa dos últimos 25 anos — e de influenza. Ainda assim, alertou para a possibilidade de uma nova epidemia de dengue em 2012. "Precisamos nos preparar"..
Autor: Adriano De Lavor e Elisa Batalha
Fonte: Revista RADIS, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz
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