(artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal Diário de Araguari, em 10.08.2010)
O noticiário semanal “Fantástico”, da TV Globo, mostrou no último domingo duas matérias em seqüência e que, aparentemente, aparentavam não guardar qualquer relação entre si. Somente na aparência.
A primeira reportagem relatou a vida tranqüila dos traficantes de drogas na cidade do Rio de Janeiro. Em especial, o sossego de um chefe do tráfico que, como os demais, circula livremente com metralhadora em punho e pistola na cintura e comercializa drogas ao ar livre, em plena luz do dia, enquanto crianças e adultos seguem (ou tentam seguir) sua rotina normal(?).
O traficante mostrado pela reportagem é um dos condenados pelo violento assassinato do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo. Condenado a mais de 20 anos pelo tribunal do júri, teve a prisão relaxada após 5 anos e, numa das saídas para um sereno passeio, decidiu não mais voltar. Ou seja, um criminoso de alta periculosidade é tratado como um delinqüente juvenil e praticamente devolvido ao cenário do crime pelo próprio poder público, que deveria mantê-lo fora de circulação e do contato com a sociedade.
Os depoimentos do irmão de Tim Lopes e do coordenador do “Disque Denúncia” foram um misto de indignação, revolta e desesperança. Nas palavras do coordenador do Disque Denúncia, a boa vida do traficante homicida é “um acinte à cidadania!”.
Na reportagem seguinte, o programa “Fantástico” denunciou as viagens de araque de vereadores, gastando dinheiro público em “seminários” e “cursos de preparação de vereadores”. Viagens bancadas pelo dinheiro do contribuinte, com direito a praia, festas e passeios; com o devido acompanhamento de familiares, para aliviar a solidão de “suas excelências”.
O que as duas matérias têm a ver entre si? Tudo...
É da desfaçatez com o interesse coletivo, da falta de critério dos partidos políticos na admissão de filiados na indicação de candidatos a cargos eletivos, da falta de fiscalização dos atos dos agentes públicos (inclusive parlamentares), da omissão em relação às políticas sociais, de tudo isso (e um pouco mais) é que se cria o “clima” para a proliferação do crime (organizado ou nem tanto).
A verdadeira crise do Brasil não é econômica, nem política. É crise moral mesmo!
Já passa da hora de uma atitude coletiva contra esse circo.
Boa semana a todos (se a consciência nos permitir).
edilvomota@hotmail.com
http://saudenatela.blogspot.com/
2 comentários:
Não há dúvidas que nossa crise seja moral, mas como endireitar? Ouvi certa vez de algum estudioso que se fossem mortas todas as pessoas acima de doze anos ainda assim a imoralidade continuaria e talvez pior.
No dia em que cobrarmos resultados dos políticos que elegemos com o rigor que cobramos do técnico da seleção brasileira teremos um país melhor.
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