terça-feira, 3 de agosto de 2010

A CORRETA ANÁLISE DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

(Artigo publica em minha coluna semanal "Painel", no jornal "Diário de Araguari", em 03.08.2010)


A edição do dia 30/07, do jornal Folha de São Paulo, trouxe na primeira página notícia relacionada à saúde pública, com a seguinte manchete: “Em 20 anos, sobe 39% proporção de mortes neonatais”. Chocante, numa primeira espiadela por parte dos menos familiarizados com a Epidemiologia e a estatística, a matéria da jornalista Cláudia Collucci traz dados importantes e nos leva a algumas reflexões.

O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde noticia significativa redução na mortalidade infantil; porém, com uma alteração no perfil do evento. Os óbitos entre crianças de até 01 ano (mortalidade infantil) cairam 54%, enquanto a mortalidade neonatal (bebês com até 28 dias de vida) decresceu 36%. Proporção não se confunde com número absoluto.

Tecnicamente, a explicação tem justificativas plausíveis. Primeiramente, a redução da mortalidade infantil, no geral, é fruto das importantes iniciativas implantadas no Sistema Único de Saúde, tais como: programas de imunização, incentivo ao aleitamento materno, acompanhamento e orientação nutricional para gestantes, melhoria do acesso ao pré-natal, expansão do Programa Saúde da Família (PSF, rebatizado como Estratégia Saúde da Família), excelência dos serviços de monitoramento de gestantes e bebês, por parte dos Centros de Atenção Especializada em DST/Aids e implantação de UTI’s neonatais e pediátricas.

Em Araguari, esforços dos sucessivos governos municipais (inobstante a grave escassez orçamentária e a lamentável interferência político-partidária) possibilitaram, nos últimos anos, importantes avanços, ainda que insuficientes para suprir toda a demanda. Como secretário municipal de saúde, pude acompanhar de perto esses avanços e constatar que muito ainda precisa ser feito.

A inauguração da UTI Neonatal, em setembro/2005, foi um marco para a saúde local e regional. Iniciada na gestão anterior, aquela conquista somente foi possível em vista de inovadores programas do governo estadual: Programa Viva Vida (voltado para a saúde materno/infantil) e PROHosp (Programa de Melhoria da Qualidade dos Hospitais do SUS) que viabilizaram tanto a melhoria do Centro de Especializado de Atenção e Atendimento Materno Infantil (CEAAMI) quanto a instalação da própria UTI Neonatal (e, mais recentemente, da UTI Adulto).

A abordagem da saúde pública com viés meramente político-eleitoral induz o cidadão a erro de interpretação. Este é um dos principais entraves para a evolução do SUS, uma política social inovadora e que pertence a todos nós, cidadãos brasileiros, e não a este ou aquele governo de plantão. Aos governos (federal, estadual e municipal), seja qual for a bandeira partidária da vez, compete gerir o sistema com eficiência, profissionalismo e serenidade, sem as paixões que o palanque desperta. E, de preferência, sem distorcer nem ocultar informações, ou menosprezar a inteligência dos servidores do setor e do cidadão em geral.

Boa semana!

edilvomota@hotmail.com
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