segunda-feira, 12 de abril de 2010

Rio de Janeiro: tragédia premeditada

(Artigo da coluna "Painel" que publico semanalmente no jornal "Diário de Araguari")

Mais uma vez o país assiste, entre atônito e indignado, outra tragédia decorrente do impacto das intensas chuvas sobre a inadequada ocupação urbana. As redes de televisão garantem audiência, espetacularizando a tragédia, com transmissão ao vivo, utilizando helicópteros e repórteres atentos. Especialistas debatem, novamente, o caos.
Num país abestalhado pela banalização da corrupção e da falta de seriedade no trato da coisa pública, povoado por habitantes que, em sua maioria, relutam em assumir seu papel de protagonistas da história, aparentemente o que resta mesmo é lamentar.
A forma como o cidadão “comum” (segundo o iluminado presidente) se encolheu e renunciou ao direito/dever de cobrar dos agentes públicos suas responsabilidades, tornou a canastrice fato pitoresco e a canalhice atestado de esperteza.

O caos vivenciado pelas cidades do Rio de Janeiro e Niterói ganha contornos amplos, notadamente em função de eventos ufanistas como as Olimpíadas e da Copa do Mundo. E o Brasil repete o mau exemplo da falta de planejamento, do descaso com as mais elementares políticas públicas, como a ocupação do solo e a urbanização. E demonstra que nossas prioridades seriam outras, bem diferentes de jogos olímpicos ou copas de futebol.
Procurar, agora, os culpados não resolve a questão. A culpa pelas centenas de mortes das recorrentes enchentes e pelos milhões de vidas moribundas e sem esperança dos centros urbanos é de todos nós. De cada um de nós que, por ação ou omissão, há décadas continuamos permitindo que nossas vidas sejam conduzidas por gente despreparada, desqualificada moral e tecnicamente para a envergadura das atribuições da gestão pública. Deixando que a coisa pública seja contaminada por grupelhos fisiologistas, recheados de gente sem experiência e sem vocação para servir.
O descaso com a ocupação do solo e a questão urbana no Rio de Janeiro vem de longa data, a exemplo do que ocorre, salvo exceções, na maior parte do país. A permissividade, a falta de rigor, a falta de fiscalização, a corrupção, a leniência e a omissão condenaram as populações marginalizadas a residir em locais inadequados, expostas a toda sorte de riscos.
Portanto, a tragédia ocorrida no Rio, a exemplo de tantas outras que se repetem pelo país, foi premeditada. A questão era saber quando a bomba relógio iria estourar. Ela estourou, e os serviços públicos, precarizados pela falta de investimento, haverão de suportar a carga de uma demanda que poderia, e deveria, ter sido evitada.
Em outubro deste ano teremos novas eleições. Já passa da hora de cada um de nós refletir se vale a pena continuar brincando com nossas vidas e com o futuro das próximas gerações.

Boa semana a todos.

edilvomota@hotmail.com
http://saudenatela.blogspot.com

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