terça-feira, 23 de novembro de 2010

NINGUÉM VIU ?

(Artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal "Diário de Araguari", edição de 23.11.2010)


NINGUÉM VIU ?


O recente caso do rombo de - no mínimo – R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano, traz à tona algumas questões que, mesmo recorrentes, não são devidamente cuidadas.

A primeira delas é o céu de brigadeiro onde flutuam os bancos brasileiros, praticando taxas de juros altíssimas, que lhes proveem lucros cada vez mais estratosféricos. As folgas no spread bancário brasileiro são de causar inveja a qualquer agiota estrangeiro.

Outra questão é o socorro ao Panamericano, provido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mantido pelo próprio pool institucional privado do setor, visando garantir certo grau de segurança dos depositantes. Neste caso, as garantias oferecidas pelo Banco Panamericano para o empréstimo são as próprias empresas do grupo Silvio Santos. A preocupação que fica é imaginar que as demais empresas possam ter sido tão mal geridas quanto o banco. Neste caso, as garantias poderiam não garantir nada.

Com o socorro feito pelo FGC, o Banco Central do Brasil informou que não serão utilizados recursos públicos para a operação-abafa. Mais ou menos correto. Pois a sustentação do FGC se dá através de recursos aportados pelo sistema bancário, cujas reservas e lucros são extraídos do consumidor, via tarifas e juros. Resta avaliar, então, de que tipo de “recursos públicos” se fala, pois o público em geral utiliza serviços bancários. Então, por via oblíqua, o povo vai, sim, pagar o pato (como sempre).

A terceira questão do engodo, fica por conta de –lamentavelmente - mais uma série de auditorias lenientes, frouxas, senão coniventes com o crime.

Preocupante a desfaçatez com que algumas empresas de auditoria compactuam com descontroles administrativos, irregularidades, fraudes e mascaramentos de resultados, induzindo investidores e o mercado de forma geral a erros e prejuízos.

No caso do Panamericano, o cheiro de pizza se espalha. Os controladores do banco não sabiam de nada irregular. O conselho fiscal também não. A auditoria idem. Num passe de mágica fizeram R$ 2,5 bilhões virarem pó.

O problema não está na auditoria em si, ainda a mais eficaz ferramenta para garantir a lisura dos negócios, através da avaliação dos controles internos e dos registros contábeis. O problema está na epidemia de safadeza que contaminou um país onde, para muitos, a seriedade profissional virou sinônimo de pecado e a decência sinônimo de ingenuidade.

Boa semana...

edilvomota@hotmail.com

http://saudenatela.blogspot.com

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