Diz o relato:
"Meu pai e Jorge Amado - dois escritores que se prezam, e mutuamente - mantêm uma correspondência frouxa mas persistente há vários anos. E são amigos desde o tempo em que, fugindo da polícia, Jorge se asilou em nossa casa, lá por volta de 39 ou 40. A correspondência e a amizade têm sobrevivido a alguns desentendimentos, todos de ordem política, e passageiros. Quando estourou esse negócio de censura prévia, o velho escreveu ao Jorge, contando a sua posição. Há poucos dias chegou a resposta, junto com alguns recortes de jornais baianos contendo declarações dos dois e a autorização de Amado para que as suas fossem reproduzidas na Imprensa daqui.
Para os jornais, Jorge disse que "o decreto que estabelece a censura prévia para livros e publicações é simplesmente monstruoso. Profundamente lesivo à cultura nacional, ele coloca o ato de criação literária sob a batuta da polícia. Chega a ser incrível de tão agressivo à vida intelectual. Não creio que exista um só escritor que não proteste contra tal decreto. Quem ficar calado, não merece o título de escritor".
Na carta complementa: "Evidentemente, não sujeitarei livro meu à censura. Prefiro deixar de publicar no Brasil. Estamos os dois de acordo".
A carta termina assim: "A casa vos espera. Temos flores e cigarras. E velhos corações amigos. Um abraço afetuoso do amigo de sempre, Jorge".
O que tem a ver esse relato com saúde?! Tudo.
Cultura, lazer e dignidade nas atitudes contra o autoritarismo, de toda ordem, nos garantem saúde mental. E evitam que a pequenez corroa nossas veias e contamine nosso sangue, levando a morte em vida ao coração e à alma.
Érico Veríssimo e Jorge Amado se notabilizaram como ícones da cultura nacional (e mundial), não somente pela qualidade - sublime - de seus textos; mas, também, pela postura que mantiveram como defensores da liberdade de expressão.
É essa postura que diferencia os homens dos ratos...
“Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”
Érico Veríssimo
"Acho que mais terrível foi a degradação do caráter. Em relação a duas coisas. Você teve a tortura. Em segundo lugar, a ditadura institucionalizou a corrupção. Hoje, esse mal faz parte dos costumes." Jorge Amado, em 1992, sobre as conseqüências da ditadura no Brasil.
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