terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

“QUANDO MEU PAI CHEGAR...


(Artigo publicado em minha coluna semanal "Painel", no jornal Diário de Araguari, edição de 08.02.2011)
“QUANDO MEU PAI CHEGAR...”

Entre meados e final do ano de 1978 morei em Brasília, mais precisamente na sede da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada, onde conclui o curso de formação de sargentos da arma de Comunicações. O rigor da caserna se materializava na pesada rotina diária, dividida entre estudos, treinamentos técnicos e físicos, e a escala de serviços tirando guarda na 6ª Companhia de Comunicações. Além, claro, da “ralação” necessária para moldar o corpo e o espírito.

Um fato relatado, certo dia, pelo diretor do curso, marcou para sempre minha memória, como exemplo de definição de limites e separação entre questões institucionais e particulares.

Segundo o relato, certa noite a polícia militar flagrou um grupo de jovens disputando um “racha”, como são chamadas as famosas corridas de carro no perímetro urbano.  Alguns dos rapazes foram detidos e levados para a delegacia de polícia. Porém, como em Brasília o risco de trombar com parente de figurão é sempre considerável, um dos jovens se arvorou em desacatar os policiais, se apresentando como filho de um coronel do Exército. Xingando os policiais e o delegado, o jovem dizia algo parecido com “quando meu pai chegar aqui, vocês verão o que vai acontecer”.

O delegado telefonou para a residência do coronel e lhe informou o ocorrido, relatando inclusive as ofensas e “ameaças” do filho, por conta da patente do pai. Algum tempo depois, chega à delegacia de polícia o coronel. Vestido com a farda verde oliva de campanha, com o cinto NA (um tipo de cinto largo, de aproximadamente 5 cm de largura, com ilhoses para fixação de acessórios como o coldre da pistola, cantil, etc).

Após ouvir novamente o relato do delegado sobre a atitude de seu filho, que desacatara e ameaçara as autoridades policiais, por conta da patente militar do pai, o coronel não se fez de rogado... Tirou o cinto NA e aplicou uma surra no filho, dentro da delegacia e na presença das autoridades que ele havia desacatado. E sentenciou: “Você nunca mais usará meu nome ou minha patente para justificar erros seus e nem para desacatar quem quer que seja.”

De lá para cá, os costumes mudaram. E a falta de respeito e de limites ganharam proporções fenomenais...

Boa semana.

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